segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O SENTIMENTO LUSITANO...

"Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar...
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar."
Chico Buarque



Esses dias tenho acordado com muita saudade de todos, mas estou tranquila, faltam 19 dias para estar em casa...
Saudade... esse sentimento traduzido apenas na língua portuguesa e tão presente em meus dias...
Saudade que me faz ter água nos olhos e sentir o salgado do mar na boca...
Saudades... dessas que só passam sentindo a brisa do Atlântico olhando o mar da janela do meu quarto...
Saudades...dessas que só passam com um abraço (vários na verdade)!



Dois oceanos em mim: O Atlântico e o Índico... Um imenso e amoroso continente africano me conectando com meu Brasil e com os que amo... Ah, África! Obrigada por me conectar com meus ancestrais... Obrigada pelo acolhimento e desenvolvimento de minha intuição! Obrigada por fazer com que eu me sinta em casa... Porque a casa é onde o coração da gente bate! E como diz a música: Eu tenho corações fora do peito!

Um bom dia cheio de saudades! Um bom dia cheio de contagem regressiva...! Um bom dia carregado de abraços e de afetos...

"Pois há menos peixinho a nadar no mar do que os beijinhos que eu darei na sua boca" Vinícius de Morais

domingo, 13 de novembro de 2011

UMA ESCUTA INTERNA

Estou em dívidas e contra fatos não há argumentos... Então, vou pular a parte das justificativas e seguir ... Para mim, o mês de novembro sempre promoveu grandes inquietações, e, diferente de antes, eu não mais luto contra a necessidade de voltar-me pra dentro... Todos me conhecem, e me reconhecem, por ter uma natureza mais voltada pra fora, sempre aos risos... na verdade gargalhadas... Mas os que me conhecem também percebem o quanto sou transparente em minhas emoções e o quanto o dia mais ensolarado pode ser visto apenas como um quadro bonito e admirável quando estou mergulhada em mim mesma... Um bom dia quase sem som, um sorriso sem contrair todos os músculos da face...
Nesses dias, um convite silencioso é feito, e eu o aceito. Quem me convida é o sorrateiro, o raptor Hades (Plutão - não por acaso, situado no meu mapa no signo de Escorpião). E ele me chama para vir para o mais profundo de mim mesma... Então, pego minha romã e viro sua noiva (arquétipo da qual tenho profunda admiração - Perséphone)... Muitos podem estranhar em me ver assim, calada, nariz vermelho e lágrimas que brotam sem parar... Sinto que muitos gostariam de ter o que dizer, de amparar, de acolher, mas nesses momentos, meus amigos, o importante é estar junto, ombro a ombro. E agora, especificamente, como estamos a 18.000km de distância, o importante é ter vocês dentro de mim, vivos, embora a imaginação e o vínculo não consigam tornar cheio o abraço dado ao vento em frente ao mar... O que tem acontecido desde então? Eu virei um oráculo. São milhares de sonhos todas as noites. Estar nessa terra tem acelerado o desenvolvimento de minha intuição. Como eu agradeço por estar aqui!!! Esse é de longe o melhor dos presentes. Tenho refletido tanto sobre eles que meus dedos agora não acompanham a rapidez que meus pensamentos se processam. E, assim percebo, que é o momento de calar novamente...
Mas como isso começou? Qual sonho precipitou a abertura desse canal?
Todos sabem da profunda admiração que tenho pela força das mulheres de minha família e o quanto essa admiração marca a minha vida nessa existência - eu preciso honrar a graça de ser uma mulher dessa família.
Então, vou partilhar o quinto sonho de uma noite muito conturbada que tive:
Andava na mata com a naturalidade de quem não sabia para onde ia, mas deixava que os pés servissem de bússola. Estava descalça, cabelo solto e vestido branco de um tecido muito leve. Era fim de tarde. O dia já ia embora e a noite já dava seus primeiros sinais em forma de sons que assustam muitos, mas que eram como música para mim. Percebo sinal de fumaça e sou atraída por uma fogueira. Ao chegar, vejo minha avó, acocorada, nua, pintada com tintas naturais, colocando lenha na fogueira. Percebo em seu olhar a mesma doçura que ela carregava quando viva, mas também, a mesma profundidade quando me olhava.
- Vó, é você?
- Ainda bem que você me ouviu... Já fiz todos os sinais e ninguém me escuta (em um tom que me fez rir, mas depois ficar séria, pois minha avó não gostava de risos quando o assunto era sério)... A vida, é uma sucessão de repetições... Quem hoje é filha, amanhã é mãe, quem hoje é avó, amanhã é neta. Você precisa cuidar de sua mãe... Ela está cansada com os problemas depois da minha morte e de seu avô.  
- Entendi vó...
- Os portáis foram abertos. Fique atenta aos sinais e acredite em sua intuição. Você sabe o que estou falando!
Deu-me um beijo na testa e se despediu:
- Feliz dia das bruxas.

Despertei, olhei no relógio. 05:50 - 31 de outubro de 2011.

E assim é o preâmbulo do meu mês de novembro...

Essa foto ao lado foi feita por Licio, no Capão, quando viajamos em julho.

Ela representa uma parte do que sou...

um abraço... 1 mês e 4 dias é o tempo que nos separa do abraço...

Sinto muitas saudades de todos!

Com amor - Gueu

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

ENTREGUE ÀS MOSCAS...

É eu sei... muito tempo sem postar! O Blog está entregue às moscas... e olha o que elas andam aprontando por aqui...!
Mas eu tenho uma justificativa: eu estava no Brasil!
Já estou em Nacala novamente, mas confesso: o coração ainda saltando na boca do quanto os dias no Brasil foram lindos e cheios de vida! Ai, chega dá vontade de chorar... quando lembro dos abraços, dos carinhos, das risadas... do afeto, do amor... Ui ui ui, como diz Mila!
Depois passo pra fazer um resuminho de como foi a viagem, mas adianto que no aeroporto encontrei com ele, o astro, o delicioso:

Tá certo que não encontrei ele assim, mas consegui reconhecer o homem que destruia 3 subway... Se meu irmão não estivesse tão educado gritaria: Eitaaaa, tu tá morrendo de fome diabo!
Pra quem nao sabe de quem eu estou falando...
Aqui vai ele...


Beijos...
Gueu

Uhuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O MAR ME CHAMA...

Este final de semana li um provérbio macúa muito bonito:
O barco de cada um está em seu próprio peito...
Hojé é um dia de saudade... acho que por isso estou falando tanto de mar...


Aqui as pessoas vivem em sua grande maioria dele...


De manhã, é possivel ver inúmeras pessoas mariscando... a água profunda ao longe, a margem tão grande... As pessoas parecem levitar...


Tenho aprendido muitas coisas... na sexta aprendi a cantar uma música  muito bonita... quero ensinar a todo mundo quando chegar no Brasil:

Wiwanana!
Wiwanana orera,
Onamwira!
Onamwira o vilaka (2x)
CORO: wiwanana orera onamwira o vilaka
...
Ossoma'no!
Ossoma'no orera
Onamwira!
Onamwira o vilaka. (2x)
CORO: ossoma'no orera onamwira o vilaka
Ossomiha'no!
Ossomiha'no orera,
Onamwira!
Onamwira o vilaka (2x)
CORO: ossomiha'no orera onamwira o vilaka

A musica fala sobre o quanto a união é boa, apesar das dificuldades... O quanto aprender e ensinar é bom, apesar das dificuldades...
 
Embora esteja gostando daqui, meu barco aponta para o Atlântico...
Mais que do mar, sinto saudades de minha terra...
Como diz Dan, um colega de trabalho:
VEM NI MIM SEXTA FEIRA! 




"Acendemos paixões no rastilho do próprio coração. O que amamos é sempre chuva, entre o vôo  da nuvem e a prisão do charco. Afinal, sosmo caçadores que a si mesmo azagaiam. No arremesso certeiro vai sempre um pouco de quem dispara" Mia Couto

O GATO E O ESCURO - Para crianças e adultos...

Todo mundo está careca de saber que o presente que mais gosto de ganhar é livro... E agora, desenvolvi um novo interesse - livros infantis, e tem que ser com figuras (eu falo, penso e sinto como uma criança nesse sentido, rs)!
O livro que vou partilhar com vocês é muito lindo e escrito por um moçambicano muito famoso - Mia Couto. Com vocês:

Vejam, meus filhos, o gatinho preto, sentado no cimo desta história. Pois ele nem sempre foi dessa cor. Conta a mãe dele que, antes, tinha sido amarelo, às malhas e às pintas. Todos lhe chamavam o Pintalgato.
Diz-se que ficou desta aparência, em totalidade negra, por motivo de um susto. Vou aqui contar como aconteceu essa trespassagem de claro para escuro. O caso, vos digo, não é nada claro.
Aconteceu assim: o gatinho gostava de passear-se nessa linha onde o dia faz fronteira com a noite. Faz de conta o pôr do Sol fosse um muro. Faz mais de conta ainda os pés felpudos pisassem o poente. A mãe se afligia e pedia:
- Nunca atravesse a luz para o lado de lá.
Essa era a aflição dela, que o seu menino passasse além do pôr de algum Sol. O filho dizia que sim, acenava consentindo. Mas fingia obediência. Porque o Pintalgato chegava ao poente e espreitava o lado de lá. Namoriscando o proibido, seus olhos pirilampiscavam. Certa vez, inspirou coragem e passou uma perna para o lado de lá, onde a noite se enrosca a dormir. Foi ganhando mais confiança e, de cada vez, se adentrou um bocadinho. Até que a metade completa dele já passara a fronteira, para além do limite.
Quando regressava de sua desobediência, olhou as patas dianteiras e se assustou. Estavam pretas, mais que breu. Escondeu-se num canto, mais enrolado que o pangolim. Não queria ser visto em flagrante escuridão.
Mesmo assim, no dia seguinte, ele insistiu na brincadeira. E passou mesmo todo inteiro para o lado de além da claridade. À medida que avançava seu coração tiquetaqueava. Temia o castigo. Fechou os olhos e andou assim, sobrancelhado, noite adentro. Andou, andou, atravessando a imensa noitidão. Só quando desaguou na outra margem do tempo ele ousou despersianar os olhos. Olhou o corpo e viu que já nem a si se via. Que aconteceu? Virara cego? Por que razão o mundo se embrulhava num pano preto?
Chorou. Chorou. E chorou.
Pensava que nunca mais regressaria ao seu original formato. Foi então que ouviu uma voz dizendo:
- Não chore, gatinho.
- Quem é?
- Sou eu, o escuro. Eu é que devia chorar porque olho tudo e não vejo nada.
Sim, o escuro, coitado. Que vida a dele, sempre afastado da luz!
Não era de sentir pena? Por exemplo, ele se entristecia de não enxergar os lindos olhos do bichano. Nem os seus mesmo ele distinguia, olhos pretos em corpo negro. Nada, nem a cauda nem o arco tenso das costas. Nada sobrava de sua anterior gateza. E o escuro, triste, desabou em lágrimas.
Estava-se naquele desfile de queixas quando se aproximou uma grande gata. Era mãe do gato desobediente. O gatinho Pintalgato se arredou, receoso que a mãe lhe trouxesse um castigo. Mas a mãe estava ocupada em consolar o escuro. E lhe disse:
- Pois eu dou licença a teus olhos: fiquem verdes, tão verdes que amarelos.
E os olhos do escuro de amarelaram. E se viram escorrer, enxofrinhas, duas lagriminhas amarelas em fundo preto.
O escuro ainda chorava:
- Sou feio. Não há quem goste de mim.
- Mentira, você é lindo. Tanto como os outros.
- Então porque não figuro nem no arco-íris?
- Você figura no meu arco-íris.
- Os meninos têm medo de mim. Todos têm medo do escuro.
- Os meninos não sabem que o escuro só existe é dentro de nós.
- Não entendo, Dona Gata.
- Dentro de cada um há o seu escuro. E nesse escuro só mora quem lá inventamos. Agora me entende?
- Não estou claro, Dona Gata.
- Não é você que me te medo. Somos nós que enchemos o escuro com nosso medos.
A mãe gata sorriu bondades, ronronou ternuras, esfregou carinho no corpo do escuro. E foram carícias que ela lhe dedicou, muitas e tantas que o escuro adormeceu. Quando despertou viu que as suas costas estavam das cores todas da luz.
Metade do seu corpo brilhava, arco-iriscando. Afinal?
O espanto ainda o abraçava quando escutou a voz da gata grande:
- Você quer ser meu filho?
O escuro se encolheu, ataratonto.
- Filho?
Mas ele nem chegava a ser coisa alguma, nem sequer antecoisa.
- Como posso ser seu filho se eu nem sou gato?
- E quem lhe disse que não é?
E o escuro sacudiu o corpo e sentiu a cauda, serpenteando o espaço. Esticou a perna e viu brilhar as unhas, disparadas como repentinas lâminas.
O Pintalgato até se arrepiou, vendo um irmão tão recente.
- Mas, mãe: sou irmão disso aí?
- Duvida, Pintalgatito? Pois vou-lhe provar que sou mãe dos dois. Olhe bem para os meus olhos e verá.
Pintalgato fitou o fundo dos olhos da sua mãe, como se se debruçasse num poço escuro. De rompante, quase se derrubou, lhe surgiu como que um relâmpago atravessando a noite.
Pintalgato acordou, todo estremolhado, e viu que, afinal, tudo tinha sido um sonho. Chamou pela mãe. Ela se aproximou e ele notou seus olhos, viu uma estranheza nunca antes reparada. Quando olhava o escuro, a mãe ficava com os olhos pretos. Pareciam encheram de escuro. Como se engravidassem de breu, a abarrotar de pupilas.
Ante a luz, porém, seus olhos todos se amarelavam, claros e luminosos, salvo uma estreitinha fenda preta.  Então, o gatinho Pintalgato espreitou nessa fenda escura como se vislumbrasse o abismo.
Por detrás dessa fenda o que é que ele viu?
Adivinham?
Pois ele viu um gato preto, enroscado do outro lado do mundo.
UM BEIJO!
Gueu